A viola de cocho é um instrumento de origem portuguesa, que se abrasileirou e se tornou um instrumento característico da região centro-oeste brasileira, associado principalmente às culturas pantaneiras mato-grossenses e sul-mato-grossenses. Construída a partir de madeiras macias — tradicionalmente as preferidas eram as ximbuva e o sarã-de-leite — a sua forma sinuosa já quase aparece no primeiro corte da árvore pra depois ser esculpida em sua forma final. Depois é escavada, assemelhando-se a um cocho para alimentar animais. Depois é colocado um tampo, normalmente com um pequeno furo, ou mesmo sem furo algum. A viola de cocho é tradicionalmente utilizada no Cururu e no Siriri, danças típicas da região e possui cinco cordas que podem ser tocadas de forma rasqueadas ou dedilhadas.
Desde que ganhei uma dessas violas — um especial presente dado pelo violeiro Paulo Freire — fiquei encantado com gama de possibilidade timbrísticas do instrumento. Passei a explorar e a estender seus recursos, como que “hackeando”, conhecendo-o aos poucos e modificando-o não só o instrumento em si, mas o modo de se tocar.
A partir desse hackeamento, acabei criando, com a contribuição do luthier Vergílio Lima, um novo instrumento, o pássaro cocho. A partir da forma original, adicionando um cavalete e espelho para que pudesse tocar com arco, além de um conjunto de cordas de ressonância simpática, sendo que uma delas era interna ao corpo do instrumento.
Dessa forma, o que escutamos nesse álbum são duas violas de cocho, uma delas modificada na sua forma física e a outra no seu modo de tocar e afinar. Procurei explorar a intensidade frenética da mão direita como forma de remeter ao universo rasqueado do uso tradicional do instrumento. Em cada uma das faixas explorei diferentes formas de microfonação, ora com piezo, ora com condenser de contato, ora com o microfone interno de um gravador digital.
Marco Scarassatti, julho de 2018
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The viola-de-cocho is an instrument of Portuguese origin, which became a characteristic instrument of the central-western region of Brazil, associated mainly with the Pantanal cultures of Mato Grosso and Mato Grosso do Sul. Constructed from softwoods — traditionally preferred ones were ximbuva and sarã-de-leite — its sinuous form is already apparent in the first cut from the tree, and is later carved into its final form. It is then hollowed out, resembling a feed trough. Then the top is placed, usually with a small hole, or sometimes without any holes. The viola-de-cocho has five strings that can be ripped with a pick or played fingerstyle, and is traditionally used in Cururu and Siriri, typical dances of the region.
Ever since I acquired one of these violas — a special gift given by the Brazilian viola-caipira player Paulo Freire — I was delighted with the range of timbral possibilities of the instrument. I began to explore and to hack it little-by-little, extending its possibilities, modifying not only the instrument, but also the way of playing.
From this hacking, with the contribution of the luthier Vergílio Lima, I ended up creating a new instrument, the pássaro-cocho. From the original form, I added a bridge and fingerboard so I could play it with bow, as well as a set of sympathetic resonance strings, one of which is internal.
So, what we hear on this album are two violas-de-cocho, one modified from the original physical form and the other traditional in form, tuning and way of playing. I tried to explore the frantic intensity of my right hand as a way of referring to the traditional use of the instrument and its universe of shred-picking techniques. In each of the tracks I also explored different forms of miking, sometimes using a piezo, sometimes a contact condenser, or the internal microphone of a portable digital recorder.
Marco Scarassatti, July 2018
credits
released July 18, 2018
Marco Scarassatti: viola de cocho e viola de cocho modificada (pássaro cocho)
Masterização: Nelson Pinton (Vitrola Digital Estúdio)
Capa: Pedro Barassi
Foto: Karla Seemann
Produção: Bernardo Oliveira e Luan Correia
Todas as faixas foram gravadas em casa, com exceção de “Atacama”, que foi gravada em San Pedro de Atacama.
Agradecimentos: Clarisse Alvarenga, Nelson Pinton, CEMLA, Ibermúsicas, Paulo Freire, Rosana Baptistella, Vergilio Lima, Bernardo Oliveira, Antonio Panda Gianfratti e Livio Tragtenberg.
This international collective makes compelling experimental folktronica that aims to explore the potential for connection between cultures. Bandcamp New & Notable Nov 17, 2020
